O ETERNO MENINO

Quando olho para trás, não me sinto como alguém que já tivesse atravessado mais da metade do caminho, mesmo a ponte estando agora mais curta. Isso porque algumas das coisas que vivi e das quais me recordo, me fazem sentir e viver uma felicidade sem descrição. Uma felicidade maravilhosa!  Não falo das lembranças dos amores, dos arroubos da juventude. Muito menos da coragem por vezes insensata da mocidade. Essas me passam como borrões. Falo de lembranças outras que agora me tomam de assalto, arrebatadoras, vívidas, plenas. E cá fico debruçado sobre o passado, vendo o menino que me chega à memória.  As traquinagens infantis... Bem me recordo! Os dragões que degolei... Os heróis nos quais acreditei... Mas de todas as alegrias, a maior é lembrar da bela praça que ficava a duas ruas da minha casa. Que lugar mágico! Ensolarada e repleta de árvores era, para mim, uma selva imensa pronta para ser explorada, aos domingos com amigos e primarada. Tinha um trecho descampado onde era bom jogar bola e do outro lado, no gramado, as meninas brincavam de roda: “Terezinhas de Jesus” e “rosas juvenis” a rodopiar. Laços de fitas acetinados dançavam despreocupadamente, enchendo os cabelos, trançados, de cor. Tinha hora que depois de forte chuvarada, o sol se abria todo e a molecada dava um jeito de escapar dos olhos maternos para enfiar os pés nas poças d água. Terra e risos, e lá se iam bermudas e vestidos! Pirulitos multicores, realejo, periquito, casais e suas mãos entrelaçadas ocupando bancos e calçadas. Ah, quanta coisa boa vivi naquela praça! Me ver ali, no meio daquele burburinho, levando comigo uma bola ou um par de soldadinhos... Não, definitivamente nessas horas não me sinto como se tivesse atravessado mais da metade do caminho. Sou ainda aquele menino! E tudo por causa dessa sensação mágica, que só a meninice nos dá: o correr dos olhos infantis pelo mundo, a chutar latas e pedrinhas, espantando pombos que teimam em arrulhar amontoados, só para vê-los em franca retirada. Asas batendo sombreando o sol alaranjado e quente. E fechar os olhos só para sentir o calor que a lembrança me trás, sorrindo feliz, contente! Sabendo que meu espírito é e será um menino eternamente.

1 comentários:

Vera Menezes disse...

Amém !!!! Que assim seja, já em sendo..... Bjs vm

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