PONTO FINAL

Hoje, pensando em escrever, me veio uma sensação estranha. Tive medo das palavras e por algum tempo, não quis escrever nada. Como se de uma hora pra outra as palavras me tirassem o processo do viver ou o viver só se desse no processo das palavras. E eu estanquei. Não quis nem uma coisa, nem outra. Na verdade eu não quis nada. Nem as palavras através da vida e muito menos a vida através das palavras. Isso deve ser o jeito que a escrita e a vida encontram de explicar o momento solitário de quem escreve ou a solidão às vezes tão palpável de quem vive. E aí, concluo que escrever é minha única saída, que viver é o único caminho. Já não importa mais por qual das duas vertentes eu me recrio, e pronto. Que fique tudo assim, colagem, mistura... A vida no meu entender é mesmo algo fora de ordem. Pelo menos comigo, nem sempre tudo se dá separadamente. E há esse caleidoscópio, junto à tristeza que me toca agora, enquanto mais uma vez eu ponho um ponto final. Porque a vida, apesar de não ser um monte de coisas compartimentadas, é feita de camadas e mais camadas, colagens e mais colagens... E muitos pontos finais. E a gente, está o tempo todo lidando com isso. O ponto final de um texto, também é de muitas formas, o ponto final de algo que se viveu há um instante atrás, a um pensamento atrás, a um sentimento atrás. E nossa... Difícil ter que dizer isso, mas se prestarmos atenção, acontece de aparecer um ponto final em coisas que nem se quer vivemos. Camadas que nem chegamos a construir.

1 comentários:

Vera Menezes disse...

Que texto delicado... que vai encostando com muita suavidade em processos sensíveis da reflexão... que coloca o olhar lá na linha do horizonte e a gente, vai se lembrando de canções antigas, ou camadas que mesmo distantes aparecem para a surpresa de precisarem ser revisitadas.... Parabéns!

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