O DISCO
Gosto de segredar as coisas. Gosto da respiração presa; das pausas. Pessoas devem ser desvendadas aos poucos, sem pressa. Tudo é melhor assim. Pois dá tempo da gente decidir se quer ou não começar a viver alguma coisa, dividir algum momento. E tudo fica melhor quando dá certo. Quando rola afinidade. Pois aí acaba o tal ritual e vira tudo bagunça mesmo. Coisa de sentimento quando já se instalou na gente. Então já não há tantos melindres e formalidades. Relaxamos. Nada mais para ocultar. A gente já desabafa, fala, reclama de um pro outro e desse outro pro um, fofoca, da risada, chora, lava a louça, arruma a mesa, chega de repente ou de repente vai embora, vai à padaria, reclama da vida, da lida, do cansaço, fala das vezes em que babou no travesseiro, que ronca que tem chulé... Fica se repetindo, enchendo o saco, por que está com problemas, dúvidas, dor de cotovelo, paixão encroada. Pede conselho que não segue, fica devendo metade da conta do bar, ajuda, aluga, dorme junto, briga, fica de babá, se mete onde não é chamado e etc. Tudo ali. Tudo que é gostoso na gente e tudo que é chato também. E por sermos tanta coisa junta, é melhor manter os olhos também voltados para o início da relação. Tanta mistura, torna possível perdermos de vista aquilo que primeiramente nos encantou. Afinal, o romance, a conquista, a sedução, faz parte de todo relacionamento. Com algumas diferenças, claro. Quais? Ah, isso depende da relação e dependendo da relação, é segredo.
terça-feira, julho 02, 2013
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Tania Salgueiro 2017- Todos os Direitos Reservados
1 comentários:
É por uma urgente necessidade de nos reconhecemos naquilo que fazemos que, muitas vezes, tomamos por identidade o que é apenas um rascunho de nós mesmos. Cansamos da condição eterna de sermos seres inacabados. Esse cansaço abre espaço para que alguns processos se instalem com ares definitivos. Mas sempre chega a hora do incomodo, da estranheza, da desconfiança, e lá vamos nós atrás de novas afinidades que nos façam melhor apresentáveis a nós mesmos. E novamente o cansaço e mais uma vez a eterna busca... Tim-Tim em taças de cristal para a opacidade do vinho...
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